Um filho pode ser definido, de maneira bem humorada, como um pedacinho de nós, vinte e quatro horas por dia correndo perigo, quase que totalmente fora do nosso controle. Por isso, nos preocupamos tanto com eles. E essa preocupação custa aos pais, em todos os sentidos, tanto materiais quanto emocionais. Na realidade, criar e educar um filho não deve ser considerado como um custo. Mas, sim, como um investimento. Muito embora seja um investimento ao longo de muitos anos cujo resultado esperado é um tanto quanto incerto.


Parece até uma preocupação desmedida, mas não é. Encontrar um lugar onde o filho se sinta realizado, feliz e viável economicamente, fora do guarda chuva protetor dos pais, é uma tarefa para gigantes. Muito maior e muito mais custosa do que simplesmente criá-lo e educá-lo. É verdade que o lugar no mundo será encontrado com maior facilidade pelo filho, se os pais conseguirem completar o seu processo de formação no primeiro terço de sua vida. Considerando que as pessoas jovens hoje viverão, em média, 75 anos, o primeiro terço se completaria aos 25 anos, idade em que normalmente as pessoas concluem sua formação educacional, concluindo um curso superior.
Esse lugar no mundo é muito complexo porque não envolve somente um lugar para trabalhar e garantir sua sobrevivência material, mas, sim, um lugar onde ele possa constituir uma família, um círculo de amizade e se estabelecer de forma plena como pessoa e como cidadão.
São inúmeros os exemplos de filhos de pais cujo trabalho de formação foi o mais esmerado e cuidadoso possível. Mesmo assim, uma vez adultos e formados, os filhos encontraram uma série inimaginável de circunstâncias e adversidades com as quais eles não estavam preparados e suas ações e reações diante desses acontecimentos fazem sofrer pais e filhos. Isso porque, por mais que os pais tenham feito, não é possível viver pelos filhos.
Sofrimentos e angústias farão parte de suas vidas e somente eles poderão enfrentá-las, pois este é um processo de amadurecimento que ocorre concomitante ao encontro do seu lugar no mundo.
Muitos de nós, já adentrando ao terceiro e último terço da vida ou já quase em seu fim, nos questionamos: será que ao longo da vida conseguimos realmente encontrar o nosso lugar no mundo? A cada crise existencial que temos esse questionamento ronda o nosso interior. E como, infelizmente, só sabemos como as coisas foram e jamais saberemos como elas seriam, caso tivéssemos feito escolhas diferentes, ficamos sem resposta para essa dúvida.
Cada casal, se questionado, tem uma receita para educar seus filhos. A título de conhecimento e de troca de experiências, é sempre válido ouvi-las. Mas não existe uma receita pronta porque cada casal forma um time diferente e quando vêm os filhos, esses novos membros também são diferentes entre si e muito diferentes dos filhos de outros casais.
Cada família é uma célula social com características próprias porem tendo que viver e constituir novas células sociais num mundo que é coletivo, que é de todos. Fora do lar e da família, a regra, a lei e a economia são feitas de forma igual para todos. Quanto melhor os pais entenderem o funcionamento desse mundo exterior à família e quanto mais conversarem entre si, menor será a dificuldade para preparar os filhos para enfrentarem o grande desafio de suas vidas. Qual seja, conforme já descrevi anteriormente, encontrar um lugar para eles nesse mundo onde as dificuldades e as adversidades sejam enfrentadas com a maior maturidade possível.
Talvez o segredo nem seja encontrar o lugar no mundo mas, sim, preparar os filhos para conviver em todos os lugares, o que dará condições a eles de encontrarem sozinhos o seu melhor lugar.
Autor: Alfredo Fonceca Peris
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