Resumi a fala do Professor Pedro Mandelli em sete páginas digitadas e li por inúmeras vezes. Toda vez que lia, relembrava suas palavras, seus gestos, e tentava entender o que efetivamente aquilo tudo significava. Por fim, decidi aderir ao Plano de Demissão Voluntária e saí da Caixa.
E desde então, venho questionando qual é o papel de uma empresa e qual é o papel dos seus trabalhadores na construção de uma sociedade mais humana e mais justa. Ou seja, como transformar o trabalhador em um “trabalhazer”. E hoje, dia em que se comemora o Dia do Trabalhador, cabe uma reflexão um pouco maior. O que o trabalhador brasileiro pode fazer para que o seu trabalho seja fator capaz de transformar sua vida, de seus familiares e da comunidade onde ele está inserido? Será que dá para fazer mais do que já está fazendo?
Vamos começar analisando pelo lado financeiro. Para mim, a empresa dar ao trabalhador um tratamento respeitoso em todos os sentidos, incluindo as questões de relacionamento e de respeito às leis trabalhistas não é reconhecimento, é simples obrigação. Reconhecimento se dá em dinheiro. Agora, para que o trabalhador faça por merecer reconhecimento em dinheiro, o que tem sido feito?
Nos últimos anos, no Brasil, esse reconhecimento tem sido feito de cinco formas, basicamente. São elas:
- 1º aumento do piso salarial da categoria profissional, superior ao percentual da inflação do período, por conta de negociações feitas entre sindicados patronais e sindicatos de trabalhadores tendo como base o reajuste do salário mínimo que foi superior à inflação;
- 2º troca de emprego, em curtos espaços de tempo, por conseqüência do chamado “apagão de mão-de-obra” onde os ganhos de salário nas trocas de empresas, muitas vezes existem, porém são pequenos;
- 3º Movimentos grevistas onde, utilizando da pressão sobre a parte patronal, são obtidos reajustes superiores à inflação;
- 4º Pressão sobre a empresa por reajustes maiores sob ameaça de troca de emprego, também por conta do chamado “apagão de mão-de-obra”;
- 5º Livre negociação entre empresa e empregados por conta da obtenção de aumento da produtividade.
Agora cabe uma pergunta: qual dessas cinco formas tem sustentabilidade e é capaz de ajudar a empresa, o trabalhador e a economia como um todo no curto, no médio e no longo prazo?
Não preciso ser muito incisivo na resposta para que o leitor saiba que é somente a quinta forma. É somente o aumento da produtividade que possibilita transformar o trabalhador em um “trabalhazer”. Agora, cabe a ressalva: o aumento da produtividade tem que, necessariamente, passar pelo respeito às leis do trabalho e à dignidade do trabalhador. Como disse antes, isso não é reconhecimento, isso é obrigação da empresa.
E como isso é possível? Penso que esse é o ponto inicial de nossa reflexão: o que o trabalhador pode fazer para aumentar a sua produtividade, melhorar o seu ganho e se tornar um profissional melhor e mais produtivo.
Em minha opinião, há várias possibilidades. Vou destacar algumas:
- 1º O trabalhador brasileiro precisa recuperar o apreço por fazer bem feito. E fazer bem feito é fazer certo da primeira vez. Consertar dá bem mais trabalho do que fazer de novo e o produto ou o serviço nunca terá a mesma qualidade de algo bem feito da primeira vez. Ou seja, fazer como estivesse fazendo para dar de presente à pessoa que mais preza ou ama;
- 2º Encarar o trabalho como algo capaz de dar ao ser humano a verdadeira cidadania. O maior reconhecimento de um ser humano é a referência ao que ele faz ou ao que ele é;
- 3º Criar uma visão crítica sobre o que está fazendo, porque está fazendo, como e quando está fazendo;
- 4º Abrir um diálogo com a direção da empresa sobre a criação de um ambiente de inovação dos produtos e dos processos. Por mais resistente que a empresa ou os encarregados, gerentes ou diretores sejam, um dia eles entenderão que a melhoria dos processos e dos produtos ajuda a todos;
- 5º Lembrar que o trabalhador, contrariamente ao que muitos pensam, não trabalha somente para a empresa que paga seus salários, mas, sim, trabalha para si e para sua família. É do fruto do seu trabalho, independente de onde ele ocorre, que vem a sobrevivência, o conforto e o bem estar de si e de seus familiares;
- 6º Lembrar que a especialização, que leva ao aumento da produtividade e da qualidade e é capaz de garantir maiores ganhos no curto, no médio e no longo prazo, é fruto de estudos e de dedicação. Não há, no mundo moderno, como parar de estudar. Não, necessariamente, precisa ser no banco da escola. Com a informática e a internet é possível estudar em qualquer lugar e a qualquer momento;
- 7º Exigir das empresas que em todas exista uma sala de aula. Por improvisada que seja. Basta o espaço, algumas cadeiras e um quadro negro. Toda vez que se tem a oportunidade de receber uma visita – de um cliente, fornecedor, autoridade ou especialista em algo - dividir seu conhecimento com todos. E quando não tem serviço para todos, os mais experientes repassam, no ambiente dessa sala de aula, o conhecimento e a experiência para os mais jovens.
Isso aproximará muito mais o ser humano do “trabalhazer”, como disse o Prof. Pedro Mandelli, do que do trabalhador. Pense nisso e parabéns para todos nós trabalhadores e “trabalhazeres”.
Alfredo Fonceca Peris
São os mais sinceros votos da equipe da Peris Consultoria Empresarial Ltda.