segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O Líder, o Ídolo e a Ilusão: é possível viver sem eles?

A leitura que fazemos a nosso respeito pode variar, às vezes, ao longo de um único dia, dependendo de nosso estado de espírito e dos fatos que acontecem. Em determinados momentos, nos imaginamos ser ou estar inseguros. A ocorrência de um acontecimento qualquer pode mudar nossa leitura e percepção e nos dar a sensação de que somos seguros. Da mesma forma isso ocorre em relação ao sentimento de sermos mal ou bem sucedidos, pobres ou ricos, mal ou bem humorados, gordos ou magros, inteligentes ou não, jovens ou velhos. A capacidade de sermos influenciados por outras pessoas é também decisiva na estabilidade ou não de nossas convicções. Todavia, independente do grau de convicção, dificilmente conseguimos viver sem ter um líder, pelo menos um ídolo e muita, mas muita ilusão, também conhecida como sonho.

Para os cristãos, a Bíblia é o principal livro e conjunto de ensinamentos para se viver de maneira correta, honesta e justa visando agradar a Deus e aos nossos semelhantes. Dentre uma de suas condenações, está a idolatria. Segundo a Bíblia, a idolatria é um pecado. Todos os cristãos sabem disso, porém dificilmente resistem a essa tentação. Não idolatramos da forma como os cristãos da era bíblica idolatravam seus ídolos. Criamos formas ditas contemporâneas de idolatria. Os nossos ídolos não são imagens de metais preciosos. São, geralmente, pessoas que vendem uma imagem que, por algum motivo, nos agrada e nós a compramos.

Nas duas últimas décadas ocorreu um fenômeno interessante, no caso do Brasil. Até os anos 1980, quase todos os nossos ídolos eram estrangeiros. Tanto na música, quanto no esporte e nas artes, principalmente cinema. Uma vez aceita a idolatria como pecado, que este seja, então, o menor possível. E isso nós brasileiros conseguimos fazer. Substituímos nossos ídolos estrangeiros por ídolos brasileiros ou, no caso em que ainda idolatramos estrangeiros, abrimos espaços para o surgimento de ídolos brasileiros. Os antigos ídolos estrangeiros ainda continuam ídolos das gerações que nasceram até os anos 1970, principalmente. Até os anos 1960, os ídolos brasileiros eram, essencialmente, cantores sertanejos e populares vinculados ao rádio e jogadores de futebol.

Hoje temos ídolos brasileiros em quase todos os esportes, na arte, na música, na literatura, na administração de empresas, na economia, no direito, na medicina, na propaganda, nas artes plásticas, no empreendedorismo e em praticamente todas as áreas da ação e do conhecimento humano. Por incrível que possa parecer, até na política.

Da mesma forma que não conseguimos viver sem os nossos ídolos, não conseguimos viver também sem um líder. O líder é aquela pessoa a quem, na hora de qualquer dúvida, todos olham e perguntam: “E agora, o que fazemos?” Talvez nem o líder tenha a consciência de que é o líder e muito menos aceite tacitamente esse papel. Muitas vezes os próprios liderados custam a aceitar a liderança, ou melhor, admiti-la. Porém, em todo momento em que uma pessoa ou um grupo de pessoas, diante de uma situação, na vida pessoal ou no trabalho, procura alguém para fazer a pergunta anterior, ou seja: “E agora, o que fazemos?” estão admitindo e aceitando o papel do líder.

O líder não é somente aquela pessoa que precisa falar ou dizer diretamente aos demais o que fazer. Muitas vezes, sua própria ação ou sua conduta serve de exemplo e inspiração. Nessa situação o ídolo faz também o papel de líder. Muitos líderes sequer conhecem os seus liderados. Sequer sabem de sua existência. Porém, com o avanço das comunicações, um liderado pode estar do outro lado da Terra e, em tempo real, está acatando as orientações e as indicações de seu líder. E mesmo um grande líder também tem seus ídolos e seu líder, quer seja empresarial, espiritual ou sentimental.

A palavra da moda hoje é “conectar”. E todos querem estar conectados. Se sairmos às ruas perguntando às pessoas se elas querem ou não estar conectadas, a maioria esmagadora, principalmente os jovens, dirão que querem estar conectados. Agora, conectados em que? Em quem? Conectadas aos seus amigos, a sua família, ao seu grupo de trabalho ou estudo, ao seu ídolo, ao seu líder? Hoje já estamos conectados via internet. Poucas pessoas no mundo entenderam melhor esse conceito de conexão do que Steve Jobs. Ele foi tão genial na interpretação dessa necessidade oculta das pessoas quanto na criação e incorporação de tecnologias aos produtos de sua empresa. Dentro em breve estaremos todos conectados na “nuvem”. E nela estarão todos os nossos líderes e os nossos ídolos. Nós também estaremos lá e, talvez um dia, seremos ídolos ou líderes de uma multidão. Porque de um pequeno grupo de pessoas todos nós temos um pouco de ídolo e de líder. Atualmente os ídolos e os líderes podem surgir a partir da postagem de um único vídeo no You Tube. O garoto Justin Bebber que o diga. Vai se sustentar ou não dependendo de sua capacidade, essencialmente, de criar uma imagem e saber continuar vendendo-a. Não se esqueçam que para ajudar nessa tarefa já existem empresas e profissionais especializados.

E o mais interessante é que, principalmente para os jovens, mais importante do que gostar, admirar e idolatrar o ídolo é mostrar para o grupo ao qual pertencem que são mais fãs ou capazes de fazer mais coisas para demonstrar a devoção que todos os demais. O que significa essa demonstração? Essencialmente, distanciamento da essência do homem.

O homem contemporâneo está se transformando num consumidor contumaz de serviços. Essa opção se transformou na nova essência do homem. E lembrando sempre que mais importante do que consumir serviços, comprar e incorporar imagens, é demonstrar ao grupo ao qual pertence a capacidade de fazer isso. E ninguém faz isso melhor que os jovens. O principal detalhe é que eles não sabem, fingem não saber ou propositalmente se esquecem que quem paga essa conta são seus pais. E a conta é alta. São viagens, ingressos para shows, celulares Iphone e Smartphone, o Ipod já teve sua majestade, o Tablet que reúne inúmeras funções como notebook, leitor de livros, leitor de catálogos, tocador de músicas, entre outras funções, jogos de computador, ingressos de cinema, roupas e calçados de marca, visita semanal ou até diária ao shopping center, seguido do “lanchinho no Mac ou no Bobs” e a lista quase não tem fim. E ao final os jovens dizem que precisam de um psicólogo, pois estão estressados. Segundo eles, seus pais só pensam na carreira profissional e só trabalham. Não têm tempo para eles. Há também o grupo de pais que dizem que é melhor que os filhos gastem dinheiro assim do que gastem com cigarros, bebidas e drogas ilícitas. E o pior é que eles têm um argumento forte e nada desprezível diante da atual conjuntura social.

Por último, tão necessária e imprescindível quanto a existência do ídolo e do líder, para o homem contemporâneo, erroneamente chamado de homem moderno, é a ilusão. Ah, sem essa é impossível viver. Mesmo o genial Steve Jobs dizia que não se pode deixar de ir atrás de nossos sonhos. O que é um sonho, na grande maioria das vezes, senão uma ilusão?

Como o homem contemporâneo cada vez mais se distancia de sua essência, cada vez mais ele precisa de ilusão para continuar vivendo. E o mais interessante é que nos iludimos com tantas coisas e as coisas mais estapafúrdias que, se pararmos friamente para analisar, com certeza iremos rir de nós mesmos. O problema é que como nos distanciamos de nossa essência, cada vez mais, por que não gostamos mais de pensar, não temos mais tempo e nem paciência para isso, dificilmente iremos rir de nós mesmos.

Ter sonhos com certeza é muito bom. Pode não dar resultado nenhum, porém é extremamente confortante. Conheço pessoas que vivem sempre iludidas de que um dia acertarão as seis dezenas da MEGA SENA. A principal aposta de melhoria de sua condição material de vida está concentrada no acerto das seis dezenas e na fatura do prêmio. É pouco, muito pouco. Porém, vale para muitos.

E existe alternativa ao simples sonho? Existe sim. Existe uma coisa chamada definição de objetivos, planejamento, estabelecimento de metas e muito trabalho. Nesse incluído uma certa parcela de tempo para reflexão, para estudos, para diálogos em família e no trabalho, para busca da nossa essência e para escolhas de ídolos e de líderes que sejam o mais parecido com aquilo que defendemos ou acreditamos. Nossos ídolos e líderes não podem ser aqueles que se prendam somente a ditadura das imagens. Se fizermos a opção equivocada, ficaremos com o lado negativo tal qual os nossos antepassados dos tempos bíblicos que cultuavam imagens feitas de metal precioso.

Autor: Alfredo Fonceca Peris
Economista e sócio-diretor da Peris Consultoria Empresarial