segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O dinheiro traz felicidade?

Aparentemente, a resposta para essa pergunta pode parecer fácil e muitos, ao serem questionados, poderão responder afirmando, com certeza, que mais do que trazer felicidade, o dinheiro permite pagar por ela. Analisando mais friamente, pode-se dizer que a resposta não é tão simples assim e merece uma cuidadosa reflexão.

Primeiro, porque quando fazemos ou quando nos fazem essa pergunta, a palavra dinheiro não representa, necessariamente, papel moeda ou depósito em uma instituição bancária disponível para comprar o que queremos. Geralmente representa o total do patrimônio de uma pessoa ou de uma família e que pode estar representada, também, por bens como áreas de terras rurais, animais, propriedades urbanas, veículos, aeronaves, embarcações, metais preciosos e jóias, empresas e ações e uma série de bens que tenham algum valor, mas que não tenha liquidez imediata. Aí reside parte das preocupações e motivos para se questionar a efetiva capacidade que o dinheiro tem de trazer felicidade.

Se estiver em espécie, em nossa posse, conviveremos com o medo de que alguém possa tirá-lo de nossas mãos, além de colocar em perigo nossa integridade física e a de nossa família. Ficamos preocupados com a inflação que estará deteriorando parte de seu valor de compra. Se estiver depositado em uma instituição bancária ficamos preocupados com a saúde financeira dessa instituição, com a aplicação do dinheiro para impedir que a inflação deteriore seu poder de compra e com sua a remuneração. Além de querermos que poucos saibam de sua existência, principalmente amigos e parentes que possam ousar a fazer pedidos para que nós o emprestemos.

Se o dinheiro for representado por bens, quaisquer que sejam, caso não nos cuidemos, podemos nos transformar em seus escravos. Não poderemos viajar por que os mesmos demandam cuidados. Não poderemos dormir tranqüilos à noite porque corremos o risco de sermos roubados. Se ameaçar cair uma tempestade com ventos, muitos raios, chuva em excesso ou granizo, igualmente não dormiremos tranqüilos imaginando os estragos que poderão nos causar.

Além do que, quando temos propriedades, teremos que ter empregados para cuidar, teremos que despender tempo e dinheiro para sua manutenção e conservação, além de pagarmos impostos para continuarmos tendo o direito de ser seu dono. Talvez por tudo isso seja tão difícil acumular um grande patrimônio ao longo da vida. Muitos tentam e poucos conseguem. Gerenciar toda essa sorte de situações adversas não é tarefa fácil e requer um conjunto de habilidades que não são encontradas em todas as pessoas.

Agora, nem por esse conjunto de situações a serem administradas, deixamos de, pelo menos, tentar ter dinheiro, independente da forma como ele esteja representado. Tenho dito e escrito que o melhor e maior calmante, o mais poderoso, fabricado no Brasil, é produzido pela Casa da Moeda e não por nenhum laboratório farmacêutico. O dinheiro acalma tudo e quase todos. Felizmente ou, em alguns casos, infelizmente, o dinheiro é capaz de fazer calar e acalmar a quase totalidade das pessoas. Muitos poderão dizer que eu estou exagerando, mas, friamente e sem hipocrisia, somente uma minoria e, em situações muito pontuais, continuam firmes na sua posição quando a proposta para mudar inclua receber uma compensação em dinheiro.

E, na maioria das vezes, isso não implica em nenhuma atitude ilícita. Não inclui suborno e nem corrupção de forma direta. O dinheiro é muito usado para se fazer pequenas compras e barganhas. Em família mesmo a maioria dos problemas é resolvida mediante o uso do dinheiro. Pode existir amor e desamor, acordo e desacordo, independente do grau de parentesco existente entre as pessoas, o dinheiro transita nesse meio com a maior desenvoltura.

Segundo, o que é felicidade? Para sabermos se o dinheiro nos traz felicidade temos que saber o que é felicidade. Existem muitas receitas de felicidade. O cantor Toquinho compôs uma música chamada “Receita de Felicidade”, muito prazerosa de ser ouvida.

Quase todos nós temos nossa própria receita. A questão é: colocamos em prática essa receita? Muitos dizem que felicidade não depende de dinheiro. Dizem que felicidade é um estado de espírito. Independente disso, todos nós queremos ser felizes. A felicidade é um direito de todos. Só que não pode ser garantida pelo Estado e nem pelas outras pessoas. Todos podem nos ajudar. Porém somente nós podemos ser felizes. E se essa felicidade será proporcionada pelo dinheiro ou não, é igualmente nossa a escolha.

A melhor discussão sobre felicidade que li até hoje - e não me peçam a fonte, pois não me lembro mais -, diz que a felicidade acontece aos poucos, em doses diárias de pequenos acontecimentos que nos deixam felizes. Tal qual a tristeza e a chateação. E, na maioria das vezes, essa felicidade nos é proporcionada diretamente pelas pessoas. Em algumas situações pode ser facilitada por algo adquirido com dinheiro. Mas não é sempre.

É lógico que o dinheiro traz conforto e este pode nos ajudar muito na tarefa de sermos felizes, desde que saibamos tirar proveito do dinheiro como um meio para nos proporcionar esses pequenos acontecimentos que podem nos fazer felizes.

Se por conta do dinheiro passamos o dia preocupado e estressado com tudo o que dá errado, o dinheiro não trará felicidade e mesmo quando pequenos acontecimentos derem certo, não estaremos prontos para aproveitá-los e curti-los com a atenção que merecem.

Ao longo do dia nem tudo dá certo, porém nem tudo o que fazemos dá errado. Em alguns dias, parece que tudo dá errado. Nada do que fazemos se completa. Conheço uma pessoa que diz: “No final tudo dá certo. E se não deu certo ainda, é porque o final não chegou”. Sendo assim, parece que em determinados dias fazemos a colheita. Se olharmos de forma pouco atenta, nos parece que aquele é o dia em que tudo deu certo. É o nosso dia de sorte. Acontece que, provavelmente, nesse dia, estamos concluindo tarefas iniciadas em outros dias como se fosse o plantio. Hoje é o dia da colheita e só há colheita em um dia quando houve plantio em dias anteriores.

Assim, respondendo a pergunta inicial podemos afirmar que o dinheiro traz conforto e pode, sim, trazer felicidade. O que o dinheiro não pode é garantir a felicidade. O que garante a felicidade é a capacidade individual do ser humano de usar o dinheiro, independente da sua quantidade e da sua forma, para deixá-lo forte e poderoso contra a tristeza e a chateação. E, para isso, temos que saber aproveitar os curtos e raros momentos de plena felicidade para curtir com quem está conosco naquele momento, independente dos nossos objetivos materiais estarem ou não atendidos.

Da mesma forma, sabermos administrar as chateações e as adversidades para saber que elas são normais, independente de termos mais ou menos dinheiro e não, necessariamente, ser motivos para tristezas. Às vezes, são momentos de plantio que são sempre mais trabalhosos. Toda colheita é prazerosa, porém é conseqüência do plantio anterior e da capacidade de aproveitar o momento e transformá-lo em felicidade. Quem não consegue ser feliz tendo pouco dinheiro, não saberá ser feliz tendo muito. Vemos inúmeros exemplos de pessoas que enriqueceram da noite para o dia, por exemplo, ganhando um prêmio na loteria, e, ao invés de felicidade transformaram suas vidas em um verdadeiro calvário.

Assim sendo, uma boa receita de felicidade pode estar na nossa capacidade de ter objetivos, trabalhar para atingi-los e não desistir facilmente, transformando as pequenas conquistas obtidas na busca pela obtenção do objetivo maior em momentos de prazer e alegria sem condicionar a felicidade ao seu pleno êxito e muito menos à obtenção de dinheiro.

Autor: Alfredo Fonceca Peris
Economista e sócio-diretor da Peris Consultoria Empresarial