terça-feira, 13 de setembro de 2011

Cartão de Crédito: mocinho ou bandido das finanças pessoais?

O cartão de crédito começou timidamente a ser utilizado, no Brasil, durante a década de 1980. Lentamente, começou a ser aceito pelos consumidores e pelos lojistas. Lembro-me que, em 1984, trabalhava como operador de caixa em uma rede de lojas de varejo, em Cascavel, no Oeste do Paraná e, quando um cliente dizia que ia pagar com o cartão de crédito, eu suava frio. Primeiro porque tinha que ligar para uma central para pedir autorização para aceitar o cartão de crédito. Qualquer irregularidade no preenchimento do comprovante cujos dados do cartão eram obtidos pressionando o comprovante contra a sua face, a operadora devolvia o comprovante. Nesse caso, havia a necessidade de localizar o cliente para passar novamente o cartão ou receber a compra em cheque ou dinheiro. Lembrando que nessa época poucas pessoas tinham telefone fixo e o celular ainda não existia. Quando o cliente morava em outra cidade, só ficávamos tranqüilos quando decorria o prazo para recebimento e ninguém da Matriz acusava alguma irregularidade.

Na década de 1990, mais precisamente após a implantação do Plano Real e com a evolução da microeletrônica e da internet, os cartões de crédito se popularizaram. Na primeira década deste século, com a expansão do crédito ao consumidor como conseqüência da redescoberta do mercado interno, os cartões de crédito se transformaram numa verdadeira febre. Praticamente a maioria das famílias hoje possue pelo menos um cartão de crédito.

A partir de uma renda mensal de R$ 200,00, como uma mesada, por exemplo, já é possível conseguir um cartão de crédito. Normalmente, o limite é sempre superior à capacidade de pagamento do usuário. E aí é que começam os problemas.

O cartão de crédito pode ser o “mocinho” ou o “bandido” das finanças pessoais. Tudo depende do grau de entendimento que a pessoa tenha sobre seu funcionamento e sobre sua melhor utilização. Nesse artigo, o objetivo será discorrer sobre as principais vantagens e sobre as principais desvantagens do uso do cartão de crédito, bem como dar algumas dicas sobre como utilizar melhor o cartão de crédito com o objetivo de facilitar a administração do orçamento familiar.

Os cartões de crédito têm, basicamente, três grandes desvantagens. São elas:

  • o valor da anuidade;
  • o incentivo aos exageros nas compras e ao descontrole dos gastos pessoais;
  • as altas e proibitivas taxas de juros cobradas sobre os valores não pagos no vencimento do cartão.

Em contrapartida, se bem administrado o seu uso, pode ter inúmeras vantagens que variam de cartão para cartão. Sempre lembrando que algumas vantagens podem ser oferecidas por algumas operadoras e não por outras, como é o exemplo da troca dos pontos dos cartões por créditos de telefonia celular que, pelo que temos conhecimento, só é possível ser feito por um único cartão de crédito, atualmente. São estas as principais vantagens obtidas pelos consumidores com o uso do cartão de crédito:

  • não precisar carregar dinheiro em espécie;
  • não precisar aprovar crédito para efetuar compras a prazo;
  • possibilidade de saques ou pagamentos à vista quando o cartão também tiver a opção Débito em Conta Corrente Bancária;
  • efetuar o pagamento de todas as compras efetuadas no mês de uma só vez;

  • efetuar compras à vista durante o mês com o salário que será recebido no mês seguinte;
  • obter descontos em eventos esportivos e culturais, como jogos de futebol, espetáculos de teatro e exibição de filmes em cinemas;
  • efetuar compras pela internet de maneira rápida e fácil;
  • agilidade nas compras a prazo sem precisar comprovação de renda e de endereço;
  • para quem é organizado, auxiliar no controle do orçamento familiar uma vez que, com pouco dinheiro no bolso a tendência é gastar menos. E dificilmente a pessoa usará o cartão de crédito para compras de valor muito baixo;
  • obter pontos, proporcionais ao valor das compras, que podem ser utilizados pelo consumidor para uma série de possibilidades.

Os pontos obtidos podem, dependendo da política de cada operadora do cartão de crédito, ser utilizados para:

  • troca de créditos de telefonia celular;
  • troca por passagens aéreas;
  • troca por mercadorias;
  • troca por anuidades do próprio cartão de crédito;
  • troca por ingressos de cinema;
  • troca por pontos de relacionamento que permitem, no caso da operador ser, também, um banco, diminuir a tarifa bancária paga pelo correntista.

Sendo assim, para que o cartão de crédito seja sempre o “mocinho” do orçamento familiar e nunca o “bandido”, recomenda-se:
  • antes de aceitar o cartão de crédito que lhe é oferecido, pessoalmente, por telefone, pela internet ou pelo correio, negociar com a operadora do cartão para saber quanto você irá pagar de anuidade, qual o limite a ser disponibilizado e quais os critérios para utilização da pontuação obtida;
  • aceitar um limite que esteja dentro da sua capacidade de pagamento que depende, sempre, da renda mensal média obtida;
  • antes de comprar, sempre fazer as contas para ver se o valor da compra ou o valor da parcela, para os casos de compras parceladas, cabem no seu orçamento;

  • sempre lembrar que o limite do cartão e o dinheiro disponível deverão ser suficientes para passar o mês inteiro;
  • preferencialmente fazer compromissos cuja renda permita pagar a totalidade da fatura. Evite pagar parcialmente a fatura pois os juros cobrados sobre o saldo devedor estão entre os mais altos do mercado, chegando algo próximo de 250% ao ano. Não se esqueça, por exemplo, que a inflação gira em torno de 6,50% ao ano, atualmente;
  • Caso você perca totalmente a capacidade de pagar a totalidade da fatura, entre em contato com a operadora do cartão e parcele o saldo devedor. Isso fará com que os juros cobrados sejam drasticamente reduzidos. Nesse caso, a operadora irá cancelar o seu cartão. Todavia, assim que você quitar todas as parcelas do acordo que fizer, esta ou outra operadora lhe concederá outro cartão;
  • Caso resolva parcelar o saldo devedor, negocie os juros. Não aceite qualquer taxa de juros. Se você não tiver uma calculadora financeira para fazer o cálculo e identificar a taxa de juros que está sendo cobrada, peça ajuda a um amigo ou consulte um consultor de finanças pessoais, hoje conhecido como Personal Finance.

Pense nisso com carinho e boa semana.

Autor: Alfredo Fonceca Peris
Economista e sócio-diretor da Peris Consultoria Empresarial