Aproveitei que tinha um certo tempo e continuei a conversa fazendo uma observação que creio, seja útil para muitas famílias que devem, tal qual esse meu interlocutor, se fazer a mesma pergunta quando ouvem alguém dizendo que é preciso e estratégico poupar uma parte da renda.
Em segundo lugar, disse a ele que, a partir do total da renda auferida, é necessário, na confecção do orçamento, elencar aqueles itens que a família não consegue, de forma alguma, evitar o gasto. Dentre esses, está a alimentação. Pessoas bem alimentadas produzem mais e ficam menos doentes. Todavia, disse a ele que a compra de alimentos efetuados de forma planejada também é capaz de gerar economia e aumentar a satisfação da família.

Em quarto lugar, vem a saúde. Alimentando-se corretamente e utilizando de forma planejada o sistema público de saúde, procurando as informações necessárias para saber quais serviços tem disponíveis, onde e em que condições, é possível minimizar os gastos com saúde, porém algum recurso sempre será necessário despender.
Em quinto lugar, vêm os gastos com transportes. O uso de transportes públicos, de bicicletas e motocicletas, são capazes de reduzir muito esses gastos, além de, no caso da ida ao trabalho caminhando ou de bicicleta se praticar um excelente exercício físico que promove saúde física e mental, por conseqüência, mais bem estar.

Em sétimo lugar, vem a manutenção da casa, aí inclusos os gastos com higiene e limpeza. Igualmente são despesas inevitáveis, porém que podem ser reduzidas com as práticas do consumo consciente e com o gosto por pequenas tarefas domésticas e por pequenos consertos que evitam muitas despesas desnecessárias.
Em oitavo e último lugar, vêm o lazer. É necessário, porém pode ter seu gasto reduzido caso a família tenha, por exemplo, o hábito de se manter atualizada e saber quais os eventos públicos e gratuitos disponíveis em sua cidade. Além de aproveitar o próprio convívio familiar para transformá-lo em momentos de lazer, de aprendizado e de aproximação entre os membros da família.
Esses gastos são todos inevitáveis, todavia podem ser bem administrados seguindo o hábito de confeccionar o orçamento familiar com a presença de todos os membros da família. Essa é uma ferramenta que deve ser confeccionada, discutida, administrada e acompanhada por toda a família. Nesse momento ele me interrompeu e questionou: “Mas se até esse momento, mesmo com o uso do orçamento, se chegar à conclusão de que já se consumiu toda a renda? Qual a sobra para a poupança? Ainda assim é possível poupar?”

A educação se constitui num estoque de riquezas que acompanha seu proprietário em todos os lugares, por toda a vida e nunca pode ser subtraída da pessoa. Além da estrutura pública de ensino profissionalizante, atualmente as empresas estão investindo muito em qualificação profissional para aqueles que têm interesse em se qualificar e crescer profissionalmente. Na maioria das vezes, sem nenhum desembolso de recursos financeiros por parte do empregado.

Disse a ele que, mesmo sem a guarda de nenhum recurso sobre a forma de dinheiro ou imóvel, caso a família faça um investimento em educação e cuide de seu futuro por meio do recolhimento do INSS, num intervalo não muito distante, particularmente quando os filhos ingressarem no mercado de trabalho, a família descobrirá que, apesar da baixa renda obtida no início da constituição da família e da impressão de que nada pouparam, acabou por fazer uma das mais importantes e duradouras formas de poupança passível de ser feita.
O histórico profissional e a rede de relacionamentos constituída ao longo da vida, no trabalho, na comunidade e no rol de amizades criadas por meio do convívio com os filhos na escola, na igreja e na comunidade são parte do patrimônio de uma família que também pode ser adquirida com o mínimo desembolso de recursos financeiros. Todos esses itens compõem parte do patrimônio de uma família e que não depende, necessariamente, do nível da renda.
Portanto, mesmo para aqueles indivíduos cujo somatório da renda de sua família possa parecer, no presente, insuficiente para qualquer atitude de poupança, a decisão de uma geração de investir pesado na educação para a vida, na educação para o trabalho e na educação financeira, é capaz de transformar a vida de todos os membros que descenderem dessa família.
Pense nisso com carinho e não se desanime. Poupança combina com mudança de atitude, visão de médio e longo prazo e muita disciplina. E nunca é tarde para começar.
Autor: Alfredo Fonceca Peris
Economista e sócio-diretor da Peris Consultoria Empresarial