terça-feira, 19 de julho de 2011

Sabedoria popular e ciência: ensinamentos práticos para a vida

Quando eu era criança e vivia no interior do Paraná, na década de 1970, havia muitas áreas de matas onde ainda eram encontrados animais capazes de colocar em risco a vida de pessoas, principalmente de crianças, como felinos, por exemplo.

O meu pai, com seu conhecimento escolar que não passou da terceira série do primeiro grau, portanto, bem modesto, porém dotado de muita sabedoria popular, dava-me sempre um conselho, por mais de uma vez, para ter certeza que não esqueceria. Dizia-me o que eu deveria fazer se um dia adentrasse a uma mata e, em determinado momento, desse conta de que estava perdido.

Dizem que quando uma pessoa se perde em meio a uma mata a tendência é ficar andando em círculos ou adentrá-la ainda mais e ter inúmeras dificuldades para encontrar a direção para sair. Ele dizia que nessa situação, eu deveria procurar uma parte da floresta onde o terreno fosse plano e escolher uma árvore onde, atrás dela, eu pudesse ficar totalmente escondido. Limpar o terreno para não correr o risco de sentar sobre um animal peçonhento, como uma cobra ou aranha e, sentar-me de costas para a árvore de tal forma que ficasse protegido do ataque de um felino, que ataca sempre de surpresa e, geralmente, pelas costas.

Sentado eu perceberia rapidamente o movimento de uma manada de porcos do mato, que são também muito ferozes, quando em bando em seu habitat natural. Perto da árvore deveria ter algum lugar onde eu pudesse subir rapidamente, caso algum animal aparecesse. Na teoria, tudo pensado. Felizmente nunca precisei testar na prática.

Uma vez sentado no chão, eu deveria ir quebrando pedaços de galhos e construindo um cercado onde poderia abrigar animais, como porcos, galinhas, cavalos, bovinos ou qualquer outro. Ele dizia: “Assim que você terminar de construir o seu cercado, atividade que não consumirá mais que alguns minutos, você poderá levantar-se e ir para a casa, sequer lembrando que se encontrava perdido.” Suas palavras intrigavam-me muito. O que tem a ver a construção de um cercado, para alguém que está perdido, com o encontro da direção certa para voltar para casa?

Da mesma forma, quando eu e minhas irmãs ou minha mãe perdíamos algum objeto, logo recorríamos ao famoso e sempre ocupado São Longuinho. Minha mãe sempre dizia que quando perdíamos algum objeto e não conseguíamos lembrar onde havíamos deixado, bastava pedirmos ajuda ao São Longuinho que ele se encarregava de encontrá-lo para nós.

Não entendia porque isso funcionava, porém acreditava que assim devia agir. Felizmente nunca me perdi em meio a uma mata, porém já me perdi em cidades, quando criança e usava a técnica do meu pai de ficar parado em algum lugar procurando esquecer que estava perdido, aguardando o momento em que conseguiria me localizar novamente. Sempre funcionava.

Mais tarde, quando ingressei na universidade, descobri uma lei chamada Lei dos Intervalos, que diz que quando se esgotam todas as possibilidades de encontrar respostas a um problema em estudo, deve-se parar, deixar de lado o que se está fazendo e ir cuidar de outro trabalho ou assunto que, preferencialmente, nada tenha a ver com o problema em questão. Obviamente que, antes de se interromper o estudo, deve-se cercar de garantias que procurou saber o máximo possível sobre o problema.

Nesse momento entendi o que meu pai e minha mãe queriam dizer quando me repassaram sua sabedoria popular, herdada quem sabe de diversas gerações passadas. Eles estavam querendo dizer, sem ter o conhecimento científico, que quando eu estivesse diante de um problema que, aparentemente, não tivesse solução, deveria dar ao meu inconsciente, que não dorme tal qual o consciente, a possibilidade de buscar todo o conhecimento e a experiência adquiridos ao longo de minha vida para encontrar a solução.

O subconsciente é o nosso melhor conselheiro, desde que lhe sejam dadas as condições para nos ajudar. Diferentemente do nosso consciente, o subconsciente não dorme, nem durante o dia e nem durante a noite. Durante o dia, muitas vezes, apesar de parecermos acordados, estamos dormindo. Nosso consciente adormece. Já não lhe ocorreu vezes em que passou um cruzamento de duas ruas em que há um semáforo e, após passar, a consciência lhe cobrou, como se lhe perguntasse: “O sinal estava verde, amarelo ou vermelho, quando você passou?” E nós jamais vamos ter condições de saber de que cor estava. Posso lhe garantir que, na maioria das vezes, estava verde.

Outras vezes somos cobrados por parentes, amigos ou conhecidos que nos dizem: “Está no mundo da lua, está dormindo acordado?” Nossas esposas são campeãs em reclamar que muitas vezes falam e nós não escutamos. E nós, prontamente, acordamos, muito embora estivéssemos de olho aberto e, segundo nós mesmos, acordados. Portanto, nosso consciente adormece muito fácil. Felizmente, nosso subconsciente não adormece.

E como não adormece, ele pode ser nosso grande aliado na solução de nossas situações do dia-a-dia que costumamos dizer que são problemas. Às vezes são apenas situações corriqueiras que podem ser facilmente administradas ou resolvidas. Tenho usado muito essa técnica durante o desenvolvimento do meu trabalho e desde que passei a utilizá-la tenho diminuído em muito o meu nível de stress, melhorado minha produtividade e, conseqüentemente, melhorado minha qualidade de vida.

Como presto serviços para um número expressivo de pessoas e empresas e como oriento trabalhos acadêmicos, sempre estou procurando solução para situações as quais nos acostumamos a chamar de problemas. Sempre que alguém me procura, peço que me conte tudo o que sabe sobre aquela situação. Se algum detalhe importante passar despercebido, vou fazendo questionamentos até esgotar ao máximo o assunto. Anoto tudo e peço ajuda ao meu subconsciente. Não me preocupo nem um pouco com a solução e nem fico pressionando-me para encontrá-la. Geralmente, quando acordo pela manhã, quando estou no banho ou quando estou dirigindo, como se diz na gíria popular: “Bingo”. A solução aparece como que por mágica. Nessa hora, costumamos dizer: “Como não pensei nisso antes. Era tão óbvio.” Pode até ser óbvio, porém não é definitivamente mágica. A calma e a tranqüilidade para pensarmos e darmos ao nosso cérebro a condição de buscar a solução, tal qual quando buscamos em uma gaveta de armário ou numa biblioteca, o livro que precisamos, possibilita a ele ir em busca de todo o conhecimento e de toda a experiência adquiridos ao longo da vida para usar a nosso favor.

E se você quiser melhorar ainda mais seus resultados, usando essa técnica, jamais pense em problemas ou situações adversas durante a noite, principalmente no seu quarto. Minha esposa sempre disse, desde que a conheci, que à noite não devemos pensar em problemas, pois à noite nunca encontramos saídas. Principalmente problemas relacionados a dinheiro. Em um quarto fechado, onde olhamos para todas as direções e só vemos paredes e escuridão, temos sempre a sensação de que não há saída.


A noite devemos dedicar ao nosso descanso e a família. As situações adversas, às quais denominamos problemas, devem ser estudadas durante o dia e deixar a solução para que o nosso subconsciente, que não adormece, encontre-a enquanto nosso consciente adormece ou curtimos os bons momentos da vida que são, na maioria das vezes, passados em casa e em família. Você verá que, ao amanhecer, as soluções aparecerão, como disse antes, como se fosse mágica.

É bom sempre lembrar que nosso subconsciente também tem suas limitações. Não encontrará, por exemplo, os seis números da Mega Sena com facilidade. Devemos ser cuidadosos em nossos atos, principalmente relacionados a dinheiro, pois senão sobrecarregaremos nosso subconsciente de tarefas para as quais ele não terá condições de nos ajudar. O seu uso é apenas a forma mais prática de atrelar sabedoria e ciência para aumentar nossa produtividade, nossa resolutividade e melhorar nossa qualidade de vida. Pense nisso com carinho.

Autor: Alfredo Fonceca Peris
Economista e sócio-diretor da Peris Consultoria Empresarial