O meu pai, com seu conhecimento escolar que não passou da terceira série do primeiro grau, portanto, bem modesto, porém dotado de muita sabedoria popular, dava-me sempre um conselho, por mais de uma vez, para ter certeza que não esqueceria. Dizia-me o que eu deveria fazer se um dia adentrasse a uma mata e, em determinado momento, desse conta de que estava perdido.

Sentado eu perceberia rapidamente o movimento de uma manada de porcos do mato, que são também muito ferozes, quando em bando em seu habitat natural. Perto da árvore deveria ter algum lugar onde eu pudesse subir rapidamente, caso algum animal aparecesse. Na teoria, tudo pensado. Felizmente nunca precisei testar na prática.
Uma vez sentado no chão, eu deveria ir quebrando pedaços de galhos e construindo um cercado onde poderia abrigar animais, como porcos, galinhas, cavalos, bovinos ou qualquer outro. Ele dizia: “Assim que você terminar de construir o seu cercado, atividade que não consumirá mais que alguns minutos, você poderá levantar-se e ir para a casa, sequer lembrando que se encontrava perdido.” Suas palavras intrigavam-me muito. O que tem a ver a construção de um cercado, para alguém que está perdido, com o encontro da direção certa para voltar para casa?
Da mesma forma, quando eu e minhas irmãs ou minha mãe perdíamos algum objeto, logo recorríamos ao famoso e sempre ocupado São Longuinho. Minha mãe sempre dizia que quando perdíamos algum objeto e não conseguíamos lembrar onde havíamos deixado, bastava pedirmos ajuda ao São Longuinho que ele se encarregava de encontrá-lo para nós.
Não entendia porque isso funcionava, porém acreditava que assim devia agir. Felizmente nunca me perdi em meio a uma mata, porém já me perdi em cidades, quando criança e usava a técnica do meu pai de ficar parado em algum lugar procurando esquecer que estava perdido, aguardando o momento em que conseguiria me localizar novamente. Sempre funcionava.

Nesse momento entendi o que meu pai e minha mãe queriam dizer quando me repassaram sua sabedoria popular, herdada quem sabe de diversas gerações passadas. Eles estavam querendo dizer, sem ter o conhecimento científico, que quando eu estivesse diante de um problema que, aparentemente, não tivesse solução, deveria dar ao meu inconsciente, que não dorme tal qual o consciente, a possibilidade de buscar todo o conhecimento e a experiência adquiridos ao longo de minha vida para encontrar a solução.

Outras vezes somos cobrados por parentes, amigos ou conhecidos que nos dizem: “Está no mundo da lua, está dormindo acordado?” Nossas esposas são campeãs em reclamar que muitas vezes falam e nós não escutamos. E nós, prontamente, acordamos, muito embora estivéssemos de olho aberto e, segundo nós mesmos, acordados. Portanto, nosso consciente adormece muito fácil. Felizmente, nosso subconsciente não adormece.
E como não adormece, ele pode ser nosso grande aliado na solução de nossas situações do dia-a-dia que costumamos dizer que são problemas. Às vezes são apenas situações corriqueiras que podem ser facilmente administradas ou resolvidas. Tenho usado muito essa técnica durante o desenvolvimento do meu trabalho e desde que passei a utilizá-la tenho diminuído em muito o meu nível de stress, melhorado minha produtividade e, conseqüentemente, melhorado minha qualidade de vida.
E se você quiser melhorar ainda mais seus resultados, usando essa técnica, jamais pense em problemas ou situações adversas durante a noite, principalmente no seu quarto. Minha esposa sempre disse, desde que a conheci, que à noite não devemos pensar em problemas, pois à noite nunca encontramos saídas. Principalmente problemas relacionados a dinheiro. Em um quarto fechado, onde olhamos para todas as direções e só vemos paredes e escuridão, temos sempre a sensação de que não há saída.
A noite devemos dedicar ao nosso descanso e a família. As situações adversas, às quais denominamos problemas, devem ser estudadas durante o dia e deixar a solução para que o nosso subconsciente, que não adormece, encontre-a enquanto nosso consciente adormece ou curtimos os bons momentos da vida que são, na maioria das vezes, passados em casa e em família. Você verá que, ao amanhecer, as soluções aparecerão, como disse antes, como se fosse mágica.

Autor: Alfredo Fonceca Peris
Economista e sócio-diretor da Peris Consultoria Empresarial