sexta-feira, 24 de junho de 2011

Aceitação no trabalho

O trabalho sempre ocupou um lugar especial na vida do ser humano. Há quem diga que o reconhecimento e o respeito pessoal advém do trabalho. Nossa própria cidadania está intimamente ligada ao trabalho. Sempre que conhecemos alguém, uma das primeiras preocupações nossas é saber onde a pessoa trabalha e o que ela faz. E se essa pessoa for uma mulher e a mesma disser que é dona de casa, embora reconheçamos a importância de sua atividade para a sua família, como essa atividade não gera renda diretamente, logo procuraremos saber quem é o seu marido para saber onde ele trabalha e o que faz.

Não adianta pensarmos que vivemos numa sociedade que só valoriza o trabalho. É que o trabalho é a nossa melhor referência. Quando dizemos a outros a nossa profissão e o que fazemos, a pessoa já faz uma leitura prévia de como somos e o que pensamos. Por exemplo: se alguém me perguntar qual a minha profissão e eu disser que sou professor, todos saberão que sou um profissional mal remunerado, lamentavelmente, porém uma pessoa distinta e com uma pré-disposição a se doar aos outros. Saberão que tenho um baixo poder aquisitivo em função da baixa remuneração, mas nem por isso deixarei de ter o seu respeito e admiração. Portanto, o trabalho gera a renda, porém não é a renda o mais importante, no contexto geral.

Dada a sua importância, todos nós temos que trabalhar e ter no trabalho uma referência e uma forma de nos sentirmos bem. O problema é que o trabalho hoje, dado o grau de urbanização e complexidade de nossa economia é, quase todo ele, desenvolvido em empresas. E nas empresas precisamos nos firmar e para tanto, precisamos ser aceitos pelo grupo de pessoas que lá trabalham.

Todas as vezes que vamos trabalhar em uma empresa pela primeira vez, sabemos que estaremos correndo o risco de sermos aceitos, tolerados ou reprovados. Se aceitos, nossa chance de ficarmos por muito tempo é grande. Se formos tolerados, nossa permanência poderá ser muito curta, a menos que consigamos reverter essa situação, o que, normalmente, é muito difícil. Quando somos prontamente reprovados, mal conseguimos completar nosso período de experiência. No entanto, penso que não damos a importância devida para o assunto.

Tenho acompanhado diversas pessoas que são admitidas nas empresas onde presto serviços e tenho observado como essas pessoas administram a sua aceitação no grupo. Não é só o comportamento pessoal que é medido e avaliado. É um conjunto de fatores que estão sendo avaliados. E isso não ocorre somente quando da chegada de uma nova pessoa na empresa. Em sociedade, estamos sempre sendo avaliados. E nas empresas, não é diferente.

E por que a aceitação no grupo segue esse ritmo? Muitas podem ser as causas. Tenho observado que cada empresa tem um ritmo, uma filosofia, utiliza uma determinada metodologia e tem, por conseqüência, um padrão. Quem está integrado à empresa, conjuga deste padrão ou filosofia. Quem ingressa no grupo, muitas vezes vêm de outra empresa formada e dirigida por outro grupo de pessoas e que, por conseqüência, tem outro padrão de funcionamento. E, as pessoas não procuram, ao chegar à nova empresa, observar e entender como funcionam as coisas ali. Muitas vezes sou chamado, durante o período de adaptação, para conversar com o funcionário novo, na tentativa de ajudá-lo em sua integração.

Há casos em que é possível corrigir os rumos e criar as condições para a integração e a aceitação ao grupo. Porém, na grande maioria das vezes em que sou chamado a intervir durante o processo, o funcionário acaba saindo da empresa. Se desde os primeiros dias o novo funcionário encontrar dificuldades para se adaptar, dificilmente consegue mudar essa tendência.

E volto a frisar: a causa, na maioria das vezes, não é quanto ao relacionamento pessoal. Mas sim, quanto às dificuldades que o funcionário novo têm de entender a dinâmica de funcionamento e o ritmo do trabalho na empresa nova. Esse, no meu ponto de vista, tem sido o fator chave para a não adaptação de novos funcionários.

O que fazer nesse caso, uma vez que percebemos que o número de contratações frustradas nas nossas empresas é tão grande? Penso que cabe às duas partes, uma reflexão sobre seu comportamento nessa situação. À empresa cabe, primeiro, procurar saber exatamente qual é o perfil pessoal e profissional que ela precisa, para contratar uma pessoa que esteja mais próxima possível do perfil desejado. Segundo, acompanhar o empregado, ensinando-o e orientando-o, além de procurar entender quais são as dificuldades que está encontrando no desempenho de suas atividades e no relacionamento com os seus colegas. Igualmente, ouvir os colegas de trabalho envolvidos no processo para facilitar o processo de integração.
Aos empregados, no meu ponto de vista, cabe a tarefa mais decisiva. Geralmente, o empregado precisa mais do trabalho do que a empresa do trabalhador. Isso por que é mais fácil para uma empresa contratar um empregado do que para uma pessoa desempregada encontrar um novo trabalho. A empresa tem a faculdade até de aumentar o salário proposto e até tirar um empregado de outra empresa. Ao empregado não basta apenas diminuir seu pedido de remuneração para conseguir trabalho.

O que percebo é que aos funcionários cabe uma atenção maior às necessidades da empresa e dos colegas que passa a ter no novo trabalho. Em tese, quem reprova o novo trabalhador é o grupo e não a empresa. Esta vai demitir o novo empregado ou renovar seu contrato por tempo indeterminado em função da avaliação do grupo ao qual ele pertencer.


Autor: Alfredo Fonceca Peris
Economista e sócio-diretor da Peris Consultoria Empresarial