segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Um espaço para o Economista no mundo dos negócios

Num mundo marcado pela velocidade excessiva com que os eventos de toda a natureza acontecem, muito se valoriza a tecnologia, principalmente porque é ela uma das grandes responsáveis por essa velocidade. Esse fato pode ser comprovado relembrando-se o papel que a evolução tecnológica, particularmente da microeletrônica, exerceu sobre o processo de globalização da economia, que está longe de ser concluído, todavia se acentuou significativamente, a partir da segunda metade dos anos 1980.

E essa mesma velocidade com que as coisas acontecem, faz com que as pessoas tenham enormes dificuldades para fazer a leitura das determinadas situações que ocorrem, às vezes, ao longo de apenas um dia. Essa realidade está relacionada a uma série de fatores. Dentre eles, pode-se destacar o fato de que hoje as pessoas dispensam uma parte pequena de seu tempo para pensar. Quase tudo vem pronto. A tecnologia existente disponibiliza facilmente quase tudo o que se precisa. Isso faz as pessoas pensarem, cada vez menos. E essa forma de agir, particularmente quando se trata de negócios, se constituí num fator limitador ao progresso.



As empresas privadas, que se constituem numa forma legal de se explorar algum negócio, carecem, cada vez mais, de pessoas que ajudem a pensá-las e a repensá-las. O questionamento sobre seu papel dentro da comunidade a qual pertence, sobre sua lucratividade, sobre sua capacidade de crescimento ou de simples sobrevivência num mundo globalizado, onde distâncias físicas não são mais barreiras, torna-se questão de sobrevivência e de vital importância para a continuidade de sua existência. E este papel precisa ser desempenhado por alguém. Uma pessoa ou um grupo de pessoas precisa se debruçar sobre o negócio, sobre a empresa e sobre o mercado no qual ela atua, considerando as particularidades da legislação fiscal e trabalhista do país onde ela está instalada, a cultura predominante, o módus operandis de seus trabalhadores, a ação do estado, o comportamento da concorrência, entre tantas outras questões relevantes, e interpretar, sempre, quais são as perspectivas e quais são as grandes ameaças à continuidade de sua existência. Lembrando sempre que uma economia forte só é possível quando se têm empresas fortes.

Dentro deste contexto, o economista surge como um profissional cuja formação acadêmica lhe permite adentrar nesse mundo, e iniciar um processo que dura sua vida profissional inteira. A cada dia, vão se somando experiências e conhecimentos que, aliados à sua formação teórica, ética, histórica e quantitativa, lhe credenciam a ser um pensador. Muitos chamam este profissional de “consultor”. Pode-se até chamá-lo assim, ou chamá-lo de “economista”. No entanto, numa análise mais criteriosa, não será nenhum exagero chamá-lo de “pensador”. E esta denominação tem que pautar sua filosofia de trabalho.

Isso se deve ao fato de que no mundo atual, globalizado, monetarizado e extremamente tecnológico, surgem diariamente tantos novos conceitos e formas de se fazer as coisas, que só aquele que encarar sua profissão de economista como a de um pensador, conseguirá acompanhar essa evolução e dela sobreviver.

A cada novo telefonema, email ou conversa, com um funcionário, com um cliente ou com um fornecedor, quer seja ele de crédito, de serviços ou de matérias-primas, obtém-se um novo conceito, uma nova tática ou estratégia. Novas metodologias aliadas, hoje, aos grandes avanços das telecomunicações e da logística, fazem as formas de se fazerem as coisas se modificarem muito rapidamente. Por isso, é muito difícil saber, a cada novo dia, se o que se está fazendo é o melhor ou, simplesmente, se é o suficiente.

Ao contrário do que muitos pensam, esse é um universo novo, desafiador e extremamente includente. Ou seja, includente para aqueles que percebem a dimensão de um mercado globalizado, onde não faz mais diferença a localização; o que conta é a capacidade de pensar, de identificar novas oportunidades a partir de uma dada realidade e agir no tempo certo. Para esses, não há exclusão.

E essa realidade pode, aparentemente, representar um obstáculo. No entanto, ao se estudar as vantagens e as desvantagens dos parceiros e concorrentes, poderá se perceber que, independente da localização, num mundo globalizado, sempre há diversas vantagens que podem fazer a diferença numa realidade nova em que o grande concorrente das empresas não são mais as outras empresas que produzem ou vendem o mesmo produto ou exploram negócios similares. O maior concorrente atual são os custos.

O ingresso dos países do Sudeste Asiático e da China no mercado mundial, como grandes produtores de bens, está aí para mostrar que, não importa mais a localização. O que importa é o que se produz, em que tempo se consegue entregar o que foi produzido e a qual preço será entregue. Portanto, pensar, interpretar e agir, se tornou o grande benchmarking atual. E não basta simplesmente pensar. A forma como se pensa é que faz a diferença. Muitos pensam sobre a mesma coisa no mesmo período de tempo. Todavia, quem saí na frente é aquele que pensa corretamente. Ou seja, o que importa, como dizia o filósofo alemão Carl Von Clausewitz, “não é no que pensamos, mas no como pensamos”.

Da mesma forma, não adianta só interpretar e fazê-lo de forma equivocada. A leitura correta da situação é essencial, pois se constitui na segunda parte do processo. Na seqüência, somente a ação imediata pode complementar o processo e realmente fazer a diferença.



Na tentativa de ser um pouco mais prático, pode-se dizer que o economista tem que, em primeiro lugar, globalizar-se a si próprio. E o que significa isso? Significa a abertura para novos conhecimentos diários, independente se o mesmo seja da área de história, de psicologia, de direito, de administração, de contabilidade ou até de culinária, sem obviamente querer menosprezar qualquer atividade, lembrando sempre que um bom cozinheiro é sempre um profissional muito requisitado, prestigiado e bem remunerado, inclusive.

O que isso quer dizer é que uma pessoa com capacidade de adentrar uma empresa e ajudar a mesma a caminhar, de preferência sempre em frente, têm que conhecer muito sobre a atividade de uma empresa, que inclui várias áreas do conhecimento. Não dá para adentrá-la e cuidar somente da parte comercial ou financeira, por exemplo. O economista, para poder ajudá-la efetivamente, precisa de uma gama ampla de conhecimentos, oriundos de várias áreas e adquiridos ao longo de uma carreira.

Mas, alguém poderá dizer: É este profissional um economista? Ou, como se forma um profissional assim, com tantos atributos?

Em primeiro lugar, o economista já é um profissional, por formação acadêmica, com uma gama de conhecimentos que são oriundos de várias outras ciências, como a filosofia, a matemática, a administração, a contabilidade, o direito, entre outras. O necessário é se dedicar a aprender sempre mais sobre todas estas áreas do conhecimento. Pois os novos negócios que surgem precisam de pessoas assim. E pode-se dizer que um profissional assim se forma a partir da decisão de um economista recém formado ou de um estudante de economia, em ter como filosofia de trabalho, o ato de pensar sobre como as empresas funcionam, efetivamente.

É óbvio que um profissional assim não estará pronto para desempenhar suas funções antes de ter algo em torno de 40 anos de idade e pelos menos uns 15 anos de profissão. Todavia, ainda com muito tempo de ter a recompensa financeira pelo esforço e muito contribuir para tornar a comunidade onde está inserida, um pouco melhor.



Autor: Alfredo Fonceca Peris